Afinal de contas, como aprender a aprender?

maio 11, 2022

Você foi certamente instruído sobre várias matérias na escola, mas você aprendeu a aprender? 

Durante o ensino fundamental e médio, somos bombardeados com milhares de conteúdos apenas para passar de ano, mas não somos preparados para adquirir novos conhecimentos constantemente. É como se aprendêssemos a importância da locomoção, mas sem saber como andar. 

É preciso saber como aprender a aprender, afinal de contas, não importa qual seja a área que você trabalha, o conhecimento é algo muito importante para seu desenvolvimento profissional.

Quer saber mais sobre o tema? Então fica comigo até o final deste artigo!

Por que é tão necessário aprender a aprender?

Antes de tudo, é preciso deixar claro que as pessoas e empresas que não se atualizam costumam ficar para trás. Isso acontece principalmente em cenários de alta competitividade e concorrência, como o que vivemos atualmente.

Em meados dos anos 1990, em um cenário pós Guerra Fria, surgiu um conceito de mundo VUCA, criado pelo antropólogo Jamais Cascio, a fim de explicar uma nova dinâmica de mundo de instabilidade, insegurança mundial, transformações rápidas e a forte presença tecnológica.

  • Volatilidade (V — Volatile): o ambiente é imprevisível e constantemente surgem desafios novos, então tudo é importante e urgente;
  • Incerteza (U — Uncertainty): por conta da inconstância, não é possível prever os eventos, e então é necessário trabalhar apenas com o presente; 
  • Complexidade (C — Complexity): as informações disponíveis são muito difíceis e volumosas, o que dificulta a execução do trabalho; 
  • Ambiguidade (A — Ambiguity): por conta do volume de informação, há uma falha de comunicação que não dá clareza do que precisa ser feito. 

De lá pra cá, o mercado mudou, trazendo mais competitividade e urgência para conseguir se destacar. Especialmente no mundo pós-pandemia, observamos outros tipos de desafios para as pessoas, e surge então um novo conceito chamado BANI, do mesmo criador:

  • Fragilidade (B — Brittleness): o mundo que antes era inconstante, agora é frágil. Qualquer acontecimento do outro lado do mundo pode te afetar e prejudicar o seu trabalho; 
  • Ansiedade (A — Anxiety): por conta da fragilidade, nossas decisões precisam ser rápidas, para que assim consigamos nos destacar. E claro que isso causa muita ansiedade;
  • Não linearidade (N — Nonlinearity): a ansiedade também está na montanha-russa das nossas conquistas e fracassos. Um grande esforço pode resultar em nada, enquanto um pequeno erro pode acabar com tudo; 
  • Incompreensibilidade (I — Incomprehensibility): essa não linearidade gera mudança nas nossas ideias e conceitos frequentemente. Isso faz com que não compreendamos com facilidade os desafios que surgem. 

Percebe como tudo está interligado? Por isso, vou te dar um exemplo de como tudo funciona atualmente. 

Digamos que você trabalhe num negócio que desenvolve tecnologia. Normalmente, esta área tem novidades o tempo todo e se o profissional não aprender o que há de novo, com o tempo pode não ser mais útil para a empresa.

Isso não acontece apenas no mundo corporativo, a nossa sociedade como um todo passa por mudanças constantes e não aprender a aprender pode nos fazer ficar a parte dessas transformações.

Você pode estar se perguntando: “mas Marília, eu já estou há anos praticando a mesma coisa, é difícil aprender algo novo, meu cérebro já não absorve mais conteúdo”. Pois saiba que você está completamente enganado!

Em 1948 foi descoberto um fenômeno chamado “neuroplasticidade”. Esse conceito diz que o cérebro adulto tem capacidade de aprender a se reprogramar sim!

É uma qualidade que está presente nas células e permite que todo o sistema nervoso se adapte a uma situação. Isso acontece inclusive em casos de traumas e lesões no cérebro ou sistema nervoso.

Para compreender melhor como funciona a neuroplasticidade, é preciso entender que elas acontecem através das sinapses, que são ligações entre neurônios para transmissão de informações e são responsáveis pela nossa forma de pensar e de sentir. Como a neuroplasticidade possibilita a criação de novas sinapses, também permite que sejam desenvolvidas novas maneiras de pensar ou sentir sobre algo.

Ou seja, não existe essa de “não ter mais idade para aprender algo”. Basta se dedicar e praticar com frequência que você pode aprender o que quiser.

As melhores práticas de como aprender a aprender

Agora que você já sabe a importância de aprender e que não existe idade limite para isso, é preciso compreender também que cada pessoa adquire conhecimento de um jeito. 

Por isso, vou apresentar agora algumas práticas famosas de aprendizagem para que você possa testar e escolher a que melhor funciona para você. Confira:

Técnica Feymann

Desenvolvida por Richard Feymann, um nobel de física, esta metodologia apresenta quatro passos para aprendizagem:

  1. escolher um assunto e escrever tudo que você sabe sobre ele;
  2. explicá-lo em voz alta de maneira bem didática. Como se estivesse ensinando para uma criança ou uma pessoa que não sabe nada sobre o assunto;
  3. analisar quais foram os pontos que você teve dificuldade de explicar para tentar aperfeiçoá-los;
  4. rever, corrigir e tentar simplificar a explicação.

Flash card

Utilizados principalmente para memorização, os flash cards funcionam como uma espécie de jogo de aprendizado. Essa prática é muito comum nos EUA e na Europa, acho válido testarmos mais por aqui!

Você deve pegar pedaços de papéis em formato de cartão e então escrever o conceito de um lado e a sua explicação no outro.

Então você deve embaralhar os cartões, selecionar um aleatoriamente e tentar explicar o conceito sem ver o lado com a explicação.

Caso você tenha dificuldade, basta virar o cartão e então ler a explicação dele. Repita este processo até que consiga explicar todos os conceitos. Também pode ser praticado da mesma forma para o aprendizado de língua estrangeira: anotando a palavra em português de um lado e a palavra na outra língua do outro.

Anotações manuais

Você sabia que quando você está anotando algo com papel e caneta, existe mais chance de fixar o conteúdo?

Isso acontece porque o ato de escrever exige mais capacidade motora e ainda estimula diversas áreas do cérebro. Dessa forma, você se concentra mais no que está escrevendo e consequentemente, memoriza melhor este conteúdo.

Minha dica é usar das suas anotações e resumos manuais como o primeiro item da Técinica Feymann e continuá-la depois. Era o que eu fazia quando estava no colégio e funcionava muito bem pra mim!

Biohacking

Este conceito fala sobre “hackear” nosso sistema – mente e corpo – para trazer os melhores resultados possíveis. Se baseia em um pensamento sistêmico de sua própria biologia, sempre buscando o auto-aperfeiçoamento.

O biohacking parte da compreensão das atividades fisiológicas do corpo para implementar hábitos que potencializam as capacidades humanas. Por exemplo, durante os estados de atividade cerebral ocorre a vasodilatação nas regiões de atividade aumentando a quantidade de oxigênio.

Como consequência, ocorre uma alteração no tipo de componente do sangue que realiza o transporte e difusão do oxigênio nas células. Sabendo de tudo isso, qual é o “hack” para aprender melhor?

A resposta é: controlar a respiração. Apesar deste insight estar no contexto de um conceito moderno, os yogues da Índia chegaram à mesma conclusão há milênios. O que podemos verificar nas técnicas conhecidas como pranayamas que são formas específicas de respirar a fim de atingir estados profundos de meditação e concentração.

A respiração é apenas um dos aspectos que o biohacking trabalha. Outras práticas para melhorar o aprendizado por meio do sistema biológico são as seguintes:

  • cérebro: realizar suplementação de componentes essenciais para a atividade cerebral, como a Vitamina B12, Magnésio, Vitamina C, etc.; 
  • nutrição: consumir mais gorduras de qualidade e diminuir os carboidratos; 
  • corpo: praticar exercícios, alongamento, ter uma postura correta, etc;
  • sono: dormir o tempo necessário para o processo de armazenamento das memórias;
  • ambiente: ter contato com a natureza, possuir uma melhor qualidade do ar, etc.

Por isso, a dica aqui é: saia do automático. Procure fazer algo diferente do que o seu corpo já está acostumado. Hackeie o seu sistema e faça com que ele trabalhe a seu favor, positivando todas as áreas da sua vida. 

Primeiro o mais difícil

Ainda falando sobre estimular o pensamento difuso, existe uma teoria que diz que se começarmos pelas tarefas mais difíceis, nosso corpo e mente ficarão preparados para o resto do que está por vir.

Inclusive, existe uma técnica chamada de “Eat That Frog”, “engula o sapo” em português, que diz que devemos fazer o que é mais importante primeiro, mesmo que consuma mais tempo para finalizar. Ela contrapõe a estratégia de ir dando check em várias pequenas atividades fáceis primeiro e só depois olhar para a mais importante e eu sou super a favor dela!

O “sapo” é aquela coisa que você tem em sua lista de tarefas que você sabe que é muito importante mas que muitas vezes você não tem absolutamente nenhuma motivação para fazer e que você provavelmente procrastinará. 

Comer o sapo significa apenas fazê-lo, caso contrário, o sapo vai comer você, o que significa que você acabará procrastinando o dia inteiro. Trazendo para a nossa conhecida expressão de “engolir o sapo”, dá pra entender que é aceitar e fazer o que se deve ser feito, não é mesmo?

Não à multitarefa

Cada vez mais vejo pessoas que realizam diversas tarefas ao mesmo tempo e juram que isso dá certo! Se você é uma dessas pessoas, saiba que além de fazer mal para sua saúde mental, é impossível se concentrar em duas (ou mais) tarefas em simultâneo.

Conforme apresenta uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica de Lyon, na França, o cérebro humano não consegue realmente se concentrar em duas coisas simultaneamente.

Segundo o estudo, para realizar diversas tarefas simultaneamente, o cérebro teria que utilizar a mesma rede de neurônios e isso é fisiologicamente impossível.

Por esse e outros motivos, que no meu curso Produtividade Sincera, eu sempre falo para meus alunos organizarem sua rotina para ter determinados horários específicos para trabalho, para estudo e para lazer. Assim, não é preciso ficar fazendo diversas atividades simultaneamente. É importante começar a pensar em blocos de tempo e em finalizar uma atividade antes de iniciar a próxima.

Seja constante

É muito importante compreender que nosso tempo e potencial mental não são cumulativos. Ou seja, se você passou um dia sem aprender nada, o seu tempo e capacidade de aprender não vão se acumular para o dia seguinte.

Além disso, ao praticar um pouco todos os dias, você consegue armazenar muito mais informação ao final de um período sem tanto esforço, do que se comparado a um estudo intenso em apenas um curto período. As informações são mais facilmente perdidas se não retomadas e você pode gastar muito mais energia fazendo em um curto período se comparado com o longo prazo executando pouco, porém constante.

Sendo assim, é indicado que você mantenha a consistência e aprenda um pouco diariamente. Isso será essencial para criar uma disciplina e até um hábito de aprendizado.

Alterne atividades quando estiver travado

Quando estamos muito tempo “quebrando a cabeça” em uma mesma coisa, é comum que a gente “empaque” e então, não consiga produzir mais nada.

Quando isso acontecer, é indicado passar para outras atividades. O nosso cérebro precisa alternar entre o estado “focado” e “difuso” para ter um bom rendimento.

Além disso, é preciso que a gente se desligue um pouco de qualquer atividade que exija muita concentração e foco. Por isso, é indicado que as pausas de trabalho sejam atividades leves, como dar uma caminhada, conversar com alguém ou até comer algo.

Ofereça recompensas a si mesmo

Muito provavelmente você já deve ter ouvido falar daqueles testes que os cientistas realizam com animais, no quais são oferecidas recompensas cada vez que ele faz o que era desejado.

Pois saiba que nós também somos animais. Um pouco mais complexos talvez, mas ainda somos animais. 

Portanto, assim como acontece nessas pesquisas, para você poder aprender algo, é importante que você ofereça recompensas a si mesmo.

Digamos que o seu objetivo seja ler 30 páginas por dia de um livro da sua área de trabalho. Se a cada vez que você concluir esse desafio, você se recompensar com 10 minutos de celular, por exemplo, seu cérebro vai assimilar que está sendo recompensado pelo esforço que realizou.

Fuja do mindset fixo! 

Você já deve ter se deparado com pessoas que dizem que “são mesmo assim e nada pode mudar isso”. Pois este é um caso de mindset fixo, ou seja, pessoas que acreditam que sua mentalidade não pode se alterar e não sabem como aprender a aprender.

Quem tem mindset fixo acredita que as habilidades não são desenvolvidas, você apenas nasce com ou sem determinado conhecimento.

Mas como eu já mencionei lá em cima, o conceito da neuroplasticidade está aí para provar que qualquer pessoa pode aprender o que quiser. Portanto, fuja do mindset fixo! Para aprender algo novo, é necessário dedicação e consistência. Dedique-se!

O que é mindset de crescimento?

Este conceito é justamente o contrário do mindset fixo. Ele fala sobre a crença da possibilidade de aprendizado, e de como aprender a aprender novas habilidades de diversas maneiras. Seja através de experiências, cursos e até erros que praticamos.

E é no mindset de crescimento que eu me inspiro e baseio os ensinamentos que passo nas minhas aulas. Todo mundo consegue mudar os hábitos e aprender algo novo, só é preciso mudar a maneira como pensa e ir pra ação.

Quais são as diferenças entre mindset fixo e de crescimento?

Bom, você já deve ter percebido que estes conceitos trilham percursos opostos. Mas isso não quer dizer que somos inteiramente um ou outro. Como reforça Carol Dweck em sua obra “Mindset”, em alguns aspectos de nossas vidas podemos ter mindset fixo e em outros, mindset de crescimento. Portanto, acho válido ressaltar algumas diferenças mais pontuais, como, por exemplo:

Crenças

Quem possui o mindset fixo acredita que nada que fizer vai mudar a sua realidade. Eles também possuem medo de perder as características que já conquistaram, por exemplo: se você é conhecido por ser bom em matemática e fizer uma nova prova e não conseguir uma boa pontuação, como poderá sustentar esse “título”? Ou seja, acreditam em definições estáticas e essas crenças limitam novos desafios.

Já as pessoas que têm o mindset de crescimento, acreditam que sempre podem trabalhar para mudar algo que não estão satisfeitos. Como diz Carol Dwek, autora do livro e do termo, são pessoas que acreditam no poder do “ainda não”. Elas ainda não sabem sobre isso, mas se dedicarem, saberão!

Limitações

Os indivíduos que possuem mindset fixo se limitam a aprender novas habilidades e ter novas experiências. Isso acaba os impedindo de crescer em diversos campos da vida. Como, por exemplo: profissional, pessoal e até social.

Já para os que possuem mindset de crescimento, não há limites que possam atrapalhar seu crescimento. Portanto, observe se tem alguma área da sua vida que você está com uma limitação por conta de um mindset fixo em relação a ela!

Postura

A postura de quem tem o mindset de crescimento é a de enfrentar as dificuldades do mundo de maneira que o façam se desenvolver.

Já a postura das pessoas de mindset fixo é de julgamento e de enxergar qualquer desafio como algo limitante, que não permite o crescimento.

Como você pode ter notado ao longo desse conteúdo, aprender a aprender traz diversos benefícios para as nossas vidas. Seja para alcançar aquelas metas que desejamos, ou até para nos desenvolvermos individualmente.

Na sociedade que vivemos, que está em constante mudança, aqueles que não sabem como adquirir um novo conhecimento, estão fadados a serem passados para trás.

Apesar de não ser uma tarefa muito fácil, com disciplina e organização é possível aprender a aprender.

Se você quer desenvolver essas habilidades, conheça o meu curso Produtividade Sincera e saiba como gerir suas tarefas para adquirir um novo conhecimento ou então aumentar sua produtividade.

marília cordeiro

Criadora de conteúdo e da metodologia Organização Sincera.

Desde 2018 eu facilito a vida de pessoas e empresas com um workflow simples e empático de gestão do tempo.

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sobre marília cordeiro

Desde 2018 trabalho especificamente com produtividade, trabalho remoto e empreendedorismo. Aqui no blog, compartilho conteúdos mais completos, conceitos relevantes e reflexões para levar para você e sua equipe dicas práticas para o dia a dia. Aproveite para aumentar seu conhecimento e se inscreva para receber as novidades!

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